O ex-Presidente da República (PR), José Manuel Ramos Horta, disse que a origem da crise política, económica e social que perdura em Timor-Leste se deve ao atual Chefe de Estado, Francisco Guterres ‘Lú Olo’, por não ter empossado os membros do Governo da Aliança de Mudança para o Progresso (AMP).
“O problema mora em Aitarak-Laran, no Palácio Presidencial, onde o PR ‘Lú Olo’ mantém firme a sua posição de não dar posse [aos candidatos membros do Governo]. Não digo que seja irracional esta decisão do PR, mas, a meu ver, seria preferível empossá-los.”, disse Ramos Horta, na passada segunda-feira (06/01), no programa Grande Entrevista, transmitido no canal do GMN TV, em Bebora, Díli.
“O PR tem a sua própria convicção e interpretação, mas isso provocou uma tensão entre a presidência e a AMP, em particular entre os elementos do CNRT, que viu perder alguns dos seus quadros. Enquanto pessoa talvez mais experiente e mais velho, sugiro a Sua Excelência que reconsidere a sua decisão e entregue o caso ao Procurador-Geral da República e ao Tribunal para então poderem decidir se estes [candidatos] são ou não culpados”, afirmou.
Para o Nobel da Paz, a tomada de posse dos candidatos membros do Governo poderia ter aberto o caminho ao diálogo e a um consenso nacional.
Ramos Horta afirmou ainda que não tem ultimamente estado em contacto com Xanana Gusmão para então discutirem esta e outras questões nacionais.
“Não falo com o Maun Boot diariamente, mas lemos e ouvimos o que diz. Assistimos à atitude dos deputados da bancada AMP, ao votarem contra a ida do PR ao estrangeiro por mais do que uma ocasião. Tudo isso demonstra um clima tenso e que não deve ser escondido”, referiu.
Para Horta, os atuais problemas políticos internos que o país vive não se devem, contudo, à arrogância dos dirigentes da velha geração.
O ex-diplomata timorense sugeriu, entretanto, que fossem encontradas soluções para debelar a atual crise política e económica que o país enfrenta.
“Seria útil para o país que os nossos líderes, nomeadamente os dos partidos políticos, dessem um passo atrás, antes de seguirem em frente de modo a porem cobro aos diferentes problemas. Caso contrário, os maiores problemas recairão sobre a população”, afirmou.
O ex-Primeiro-Ministro realçou ainda que, se a situação do país se mantiver, Timor-Leste poderá não aderir à ASEAN.
“Não haverá adesão à ASEAN, se o Governo se mantiver paralisado. As embaixadas [dos países membros da ASEAN] têm acompanhado a nossa situação. Singapura, por exemplo, acompanha diariamente tudo o que se passa no nosso país”, disse.
“Caso os nossos problemas políticos não sejam resolvidos, que contributos daremos à ASEAN? O melhor é não aderirmos, ou então, esperamos mais uns cinco ou dez anos. Quem é o principal responsável? Com certeza, o atual Governo, o PR e todos aqueles que exercem poderes do Estado. Quem são eles? É o Chefe de Estado, o Parlamento Nacional e o Primeiro-Ministro”, concluiu Ramos Horta. (GMN)