O diplomata José Ramos Horta mostra-se preocupado com o impacto que o Covid-19 terá para a saúde dos timorenses, mas também para a economia e finanças de Timor-Leste (TL) e pede que o Governo recorra ao Fundo Petrolífero para fazer face às dificuldades económicas e financeiras destes dois anos.
“O impacto para Timor-Leste, tal como o impacto para o mundo, é enorme e profundo. Estamos a enfrentar uma crise de saúde, mas também uma crise económica e financeira, que exige da liderança timorense visão, coragem, muita humildade, muito pragmatismo e muita inteligência”, disse na terça-feira (24-03), na sua residência, em Metiaut, Díli.
Para Horta, nunca o mundo atravessou uma crise tão grande, desde a Segunda Guerra Mundial, e o Covid-19 está a acelerar a maior crise económica global de sempre, que também afetará Timor-Leste.
O diplomata defende, por isso, que o Executivo timorense efetue levantamentos do Fundo Petrolífero para fazer face à propagação do coronavírus em Timor-Leste e às dificuldades económicas e financeiras dos próximos dois anos.
“Vamos retirar dinheiro do fundo soberano para salvar o nosso povo, para salvar a nossa economia. Temos de ajudar o nosso setor privado, nacional e internacional, falar com os bancos para perdoarem dívidas”, disse.
Ramos Horta pediu ainda que, caso seja necessário, se injete até dois biliões de dólares na economia nos próximos dois anos (2020-2021), porque “uma grande parte do Fundo Petrolífero foi investido em obrigações do Tesouro Americano, cujo retorno é, em média, de um 1%”.
O diplomata insistiu que o Governo timorense não pode lidar apenas com a questão da saúde, negligenciando a economia e finanças.
“O Governo pode injetar o dinheiro nos bancos, sobretudo no BNCTL e no BNU, que têm concedido empréstimos aos nossos investidores para que também eles tenham confiança. É preciso perdoar as dívidas, perdoar as contas de eletricidade para que se mantenham os salários dos timorenses”, acrescentou.
“A minha recomendação ao Primeiro-Ministro e ao Governo é que lide com este problema em duas frentes, na saúde, para controlar o vírus e salvar vidas, evitando uma calamidade em Timor-Leste. Porém, ao mesmo tempo, também uma grande intervenção na área económica”, acrescentou.
“É preciso investir o dinheiro do Fundo Petrolífero sem muitas demoras para dar maior flexibilidade de intervenção ao Governo no combate ao vírus, o que a lei permite”, insistiu.
Horta considera também que o estado de emergência adotado por Timor-Leste para fazer face à propagação do Covid-19 não vai pôr em perigo a liberdade democrática e os direitos humanos. Permitirá, porém, ao Governo tomar medidas nas áreas da segurança, diplomacia e investimento, mas também a nível social.
Questionado sobre o impacto para o setor da saúde, o diplomata timorense considera que o coronavírus afeta sobretudo os sistemas de saúde dos países que vivem num período de pós-guerra.
“Estamos em tempo de paz, apesar de países como a Síria, Sudão do Sul, Iémen e tantos outros não viverem em paz. Mas, nos países em pós-guerra, a questão da saúde está em maior crise. O coronavírus já está em dois terços do mundo e vai continuar a alastrar até que algum dia ou mês estanque”, disse, na terça-feira (24-03), na sua residência, em Metiaut, Díli.
O novo coronavírus já infetou mais de 505 mil pessoas em todo o mundo, tendo já morrido cerca de 23 mil. Dos casos de infeção, pelo menos 108.900 recuperaram. Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde a declarar uma situação de pandemia. Oct